quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Oi?!


Oi, eu gosto de você. Não do jeito vulgar da coisa, eu gosto de você com o sentido mais sério que essa frase pode trazer. Gosto do jeito, do cheiro, das gírias, da mania. Mas dessa vez eu me reconheço aqui dentro. Depois de tanto tempo, sou de novo eu. É engraçado como a gente vai vivendo as coisas, mas chega uma hora que você para pra relembrar e tudo aquilo parece que aconteceu em outra vida, que não é essa. [...] Semelhante a um ônibus. Você entra, flerta com algum cara que você achou bonito, mas o seu ponto chega rápido demais e você continua sua vida, desce do ônibus sabendo que nunca mais vai ver o tal cara. Descer é muito fácil. E se você resolver ficar?! Como nas comédias românticas, e se você resolver ficar, meu Deus?! Se você resolver sentar do lado dele, ele puxar assunto, reclamar do calor fora do normal que anda fazendo nessa cidade, reclamar do trânsito.. E ai, meu Deus?? E se ele resolver contar que a mãe trabalha perto da Marginal Tietê, pra que diabos você vai querer saber isso? Daqui a pouco você já vai descer mesmo... Mas e se ele resolver te prender um pouco mais e pedir seu telefone? Será que você ainda vai dar aquela risadinha de deboche de mulher que não bota fé em homem nenhum e já nem espera nada de um dia seguinte? E se ele segurar sua mão, te pedir pra esperar?! E se a partir daquele dia vocês resolverem pegar sempre o mesmo ônibus, no mesmo horário?! E se vocês se apaixonarem?! Vai ficando mais difícil descer do bendito ônibus... E se lota e você não consegue descer a tempo no seu ponto, você já nem se importa mais. Mas a vida é como o ônibus. Descer é inevitável. E quando você descer, pra não voltar mais, vai doer. E quando eu digo que vai doer, não é dorzinha cheia de lágrimas de crocodilo. Vai doer horrores. Deixar as coisas pra trás dói. Por isso que quando nascemos, esquecemos tudo o que passamos. Pra não lembrar e a partir de então não doer mais. Por isso que quando a gente vira adolescente só nos lembramos das coisas mais marcantes da infância. [...] É claro, muita coisa boa se perde nesse esquecimento. Ser adulto é um mérito. Significa que você já pode simplesmente deixar as coisas pra trás. Sem se machucar mais. Você já pode entender que um relacionamento foi maravilhoso enquanto durou mas agora vocês se olham e procuram em vão todo o desejo que sentiam um pelo outro. Hora de deixar pra trás, abrir mão pra que separados possam ser felizes de novo. Muito fácil descer do ônibus e deixar pra trás um desconhecido. Outros quinhentos é descer e ficar vendo partir um ônibus com um alguém a quem você conhece tão bem dentro. Alguém que dividiu escova de dentes, da cama, dos gostos, das brigas. Estar junto, namoro ou casamento é mistura de amar e querer. Não dá pra fazer funcionar se não tiver os dois, em simbiose! Praticar o desapego pode parecer coisa de adolescente que vive socado em baladas e não quer saber de se comprometer com ninguém. Mas praticar o desapego pode ser uma coisa muito maior. Pode ser dar a nós mesmos outra chance de ser feliz. E essa chance não vem só uma, duas vezes.. Ela vem quantas vezes você quiser.  

                                                                                                                                         Marina

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